domingo, 2 de fevereiro de 2014

10 Filmes de Eduardo Coutinho


Eduardo Coutinho era paulistano, nascido em 11 de maio de 1933. Morreu aos 80 anos, neste 2 de fevereiro de 2014, aparentemente assassinado pelo póprio filho.
Coutinho foi o maior documentarista que o Brasil já teve, um dos maiores do mundo.
Começou sua carreira dirigindo teatro, mas no final da década de 1950, participou de um game-show de televisão, onde respondeu perguntas sobre a vida de Charles Chaplin. Com o dinheiro que ganhou como prêmio, foi para Paris, onde estudou direção e edição de cinema e fez seus primeiros documentários.
De volta ao Brasil, uniu-se ao Centro Popular de Cultura da UNE, com o qual começou a filmar um longa de ficção, baseado no caso real do assassinato de um líder camponês na Paraíba. Mas o golpe militar de 1964 interrompeu as filmagens e os negativos ficaram escondidos por 17 anos.
Em 1966 fundou a produtora Saga Filmes com Leon Hirszman e Marcos Faria, participando como roteirista, editor e eventualmente diretor de vários filmes de ficção.
Na década de 1970, participou da equipe do Globo Repórter, aprimorando sua visão de documentarista.
Mas foi com a retomada do filme interrompido pelos militares que criou sua primeira obra-prima, "Cabra Marcado Para Morrer", revisitando a comunidade que servia de cenário para o longa original e entrevistando os personagens reais.
Seu estilo de conversar através da câmera era único. Ele era capaz de entrar nas residências e na alma de cada entrevistado.
Eduardo Coutinho deixa saudades e uma obra magnífica que merece ser conhecida por todos que amam o cinema. Veja uma lista com 10 de seus filmes!

1.  Cabra Marcado Para Morrer (a história das filmagens do longa sobre o líder camponês João Pedro Teixeira, interrompidas pelo golpe militar de 1964. o foco passa a ser a viúva do líder, Elisabeth, que participara das filmagens originais, mas passou a viver na clandestinidade, separada dos filhos, desde o golpe. o filme mistura cenas da época em preto e branco com entrevistas atualizadas em 1981, num resultado genial, premiado em vários festivais)

2.  Jogo de Cena (convidadas num anúncio de jornal a contar suas histórias de vida, 83 mulheres se inscrevem e algumas delas são selecionadas para contá-las, agora, num palco diante de câmeras. em meio a personagens reais, atrizes contam ao seu modo as mesmas histórias, criando uma confusão entre o que é real e o que é atuação. uma obra-prima do cinema documental)

3.  Edifício Master (em 2002, Coutinho entra num velho edifício de kitchnetes de Copacabana, onde vivem figuras decadentes e empobrecidas do bairro, que abrem seus pequenos apartamentos para a câmera amistosa de Coutinho. terno e genial)

4.  As Canções (pessoas comuns são convidadas a cantar canções que marcaram suas vidas, o que possibilita a Coutinho tirar delas toda emoção e nostalgia contidas na música. tocante e simpático) 

5.  O Fim e o Princípio (Coutinho sempre é muito cuidadoso com o roteiro de suas obras. aqui ele abre mão da preparação e joga seu olhar numa comunidade rural no interior da Paraíba, para que cada um dos habitantes conte sua história. um retrato do Brasil profundo, que vai ficar como legado para as gerações futuras conhecerem seu passado. um filme importante)

6.  Moscou (durante o ensaio de "As Três Irmãs", de Anton Chekhov pela Companhia Galpão de Belo Horizonte, Coutinho filma os ensaios no palco e nas coxias,sem interferir, mostrando o processo de construção de uma peça clássica)

7.  Peões (o documentário retrata o momento em que os metalúrgicos do ABC estavam prestes a eleger um dos seus, Lula, presidente do país. é um dos lados da história, de gente que admirava quase cegamente o passado sindicalista de Lula. um retrato interessante, que mereceria uma continuação para saber o que as mesmas pessoas pensam hoje do mesmo político)

8.  Babilônia 2000 (gravado na virada do ano de 1999 para 2000, no morro da Babilônia, Rio de Janeiro. mostra os preparativos para a festa por doze horas e depoimentos dos moradores locais, falando das suas expectativas sobre o ano que viria)

9.  O Homem que Comprou o Mundo (uma inesperada comédia nonsense de Coutinho, conta a história de um jovem funcionário público - Flávio Migliaccio -, que ganha uma fortuna incalculável de um árabe a beira da morte e é obrigado a ficar sob guarda do governo militar, já que seu dinheiro poderia colocar o país num novo patamar. o roteiro é muito bom e mereceria ser atualizado. o elenco surpreende com presenças ilustres em pequenos papéis. faltam recursos de produção e um desfecho convincente, mas é uma agradável surpresa)

10.  Um Dia na Vida (durante 24 horas, Coutinho gravou a programação de televisão aberta, incluindo comerciais e montou um documentário provocativo e digno de debate, questionando o que consumimos. por não ter os direitos autorais sobre as imagens, o filme foi exibido uma única vez, na Mostra de Cinema de São Paulo em 2010, numa sessão gratuita, com a presença do diretor... após a morte do diretor, este filme vazou no YouTube e pude conferir. trata-se de uma coletânea do pior que se encontra na programação cotidiana da TV, sem narração e sem comentários. interessante)


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